A postagem de hoje é para lá de especial. Quem se lembra e leu minhas resenhas do autor entende que a narrativa dos livros do Luis é instigante, maravilhosa e claro, não perderia a chance de saber mais e compartilhar com vocês!
Obrigada ao autor pela entrevista e a Primavera Editorial pois foi através dela que conheci as obras do Luis e ele.
Confiram as resenhas: O véu e A outra face do desejo.
De origem libanesa católica por parte de pai, Luis Eduardo Matta passou a infância e a adolescência entre o bairro carioca de Copacabana e uma chácara em Maricá, no interior do estado do Rio de Janeiro. Desde 1990 dedica-se a estudos sobre política internacional com foco no Oriente Médio. Um dos pioneiros e principais nomes do thriller não-policial no Brasil, iniciou sua carreira literária em 1993, aos 18 anos, com o romance Conexão Beirute-Teeran prefaciado pelo embaixador e intelectual libanês Mansour Challita, um dos maiores especialistas em Oriente Médio no Brasil, de quem Matta foi grande amigo.
Sua produção intensificou-se a partir dos anos 2000, com a publicação de outros thrillers, como Ira implacável e 120 horas. Em 2007, estreou na literatura juvenil, publicando Morte no colégio.
Sua produção intensificou-se a partir dos anos 2000, com a publicação de outros thrillers, como Ira implacável e 120 horas. Em 2007, estreou na literatura juvenil, publicando Morte no colégio.
1- Inicialmente, gostaria que contasse
resumidamente sobre um pouco de cada obra sua, se puder, destacando as lidas e
resenhadas no blog: O véu e A outra face do desejo.
R: Já são mais de
dez livros. Praticamente todos são thrillers, isto é: narrativas de suspense e
mistério. Escrevo para os públicos adulto, juvenil e infanto-juvenil. Não teria
como falar de cada um deles aqui, sem me estender além da conta. “O véu” e “A outra
face do desejo” são meus livros mais recentes para o público adulto. Ambos são
thrillers, mas com pegadas diferentes. “O véu” é um suspense que mistura o
mundo da arte à geopolítica internacional, mais especificamente o Irã
contemporâneo. Já “A outra face do desejo” é um thriller romântico, onde uma
narrativa policial se desenvolve em paralelo a uma trama amorosa.
2 - Houve alguma inspiração para escrever O véu
e A outra face do desejo? De onde esta ideia, esta construção de todo livro,
acontecimentos e reviravoltas da criação destes thrillers, surgiram?
R: Sim, a inspiração acontece o tempo todo em que se está
escrevendo um livro, mas sempre tem um ponto de partida que pode, muitas vezes,
ser resumido numa única frase. No caso de “O véu”, a ideia inicial foi um
quadro. A vida toda frequentei exposições de arte e, volta e meia, me
surpreendia imaginando possíveis mensagens subliminares ocultas em muitos dos
quadros que eu via. Pensei, então, em criar uma trama em que um quadro
instigante escondesse um grande segredo. A partir desse elemento toda a trama
foi erguida. “A outra face do desejo”, por sua vez, nasceu com a proposta de
ser uma história romântica. Mas lá pela página 20, decidi que um personagem
teria que morrer e, então, repensei toda a trama, reescrevendo, inclusive, o
que já estava pronto a fim de dar a ela
uma nova configuração, onde o suspense e o mistério predominassem.
3 - Você faz uma estrutura para organizar ou
escreve fazendo com que as “peças” da trama se encaixem durante o processo de
escrita?
R: Faço sempre. Um
thriller, para funcionar bem, necessita, na maior parte das vezes, de um
planejamento prévio, como uma planta baixa de um edifício. Sem ela, a
construção corre o risco de ruir ou de não corresponder às expectativas
iniciais. Então o que eu faço é pensar e estruturar a trama muito antes de
iniciar a escrita propriamente dita. Mas ao longo da redação do livro, que pode
durar anos, é inevitável que novas ideias surjam. Então, periodicamente, faço
paradas estratégicas a fim de reavaliar o que está pronto e, muitas vezes,
fazer alterações.
4 - Como foi a criação de cada “encaixe” de
acontecimentos do livro O véu, relacionando tudo à política, religião e
querendo ou não, parte é amor e um triste acontecimento – que os leitores do
livro sabem de quem - e quanto tempo demorou para finalizar a obra?
R: “O véu” foi o livro que mais tempo levei para escrever:
dez anos ao todo. Comecei em 1999 e só fui finalizá-lo em 2009. É claro que não
o escrevi direto durante esse período. E precisei reformulá-lo, pelo menos três
vezes. Deu muito trabalho. Mas foi ótimo. A pesquisa foi essencial para esse
livro. Mergulhei a fundo em estudos sobre a sociedade e a política do Irã e
descobri um país muito diferente deste que aparece na mídia. A internet teve um
papel importante em certa altura, pois, graças a ela, pude me comunicar com iranianos
e saber deles o que se passa no país e na intimidade da vida cotidiana anônima.
Aprendi muito, muito mesmo, com toda a pesquisa que precisei fazer para o
livro, sendo que nem 10% dela entraram na trama.
5 - Em sua obra: A outra face do desejo, disse
como foi um pouco complicado a relação de um eletrizante thriller com romance e
também, como transformou-se em uma pessoa melhor. Esta obra, de alguma maneira
foi conceituada a algo que ocorreu em sua vida ou foi mais por pedido de
leitores?
R: Sem duvida, me tornei uma pessoa melhor. E também,
creio, um escritor melhor. Nada na trama é autobiográfico – aliás, livro nenhum
meu é. Falo das outras pessoas, o que para mim é muito mais estimulante. A
ideia para “A outra face do desejo” nasceu em 2006 durante uma conversa com um
amigo, na época funcionário de uma grande editora. Ele disse que se eu
escrevesse um livro ao estilo de Nora Roberts ou Barbara Delinsky, duas grandes
escritoras românticas americanas, a editora publicaria. Como, até então, eu
nada tinha lido delas, fui atrás dos livros para saber do que se tratava e
descobri um universo literário fascinante – e até então pouco explorado por mim
– de histórias que falam, acima de tudo, de questões do coração. Desde então,
incorporei esse gênero narrativo ao meu repertório como leitor e descobri
muitos outros autores. Acredite: essas leituras apuraram a minha sensibilidade
e, graças a elas, me tornei um homem muito mais compreensivo e atento em
relação às outras pessoas e ao mundo em geral. Passei, inclusive, a conhecer
muito melhor a alma feminina. Tudo isso, é claro, acabou se refletindo no meu
trabalho.
6 - Uma marca registra que achei em teu livro,
são os temas abordados bem contemporâneos, a espontaneidade de escrita e a
simplicidade de envolver o leitor de início ao fim, sem revelar os verdadeiros
“culpados”. Aceitaria isso como algo sempre presente em tua escrita? Essa era
sua intenção ou percebeu após as publicações através dos leitores?
R: Que bom que você detectou esses aspectos na minha obra.
Creio que sempre tive essa intenção de envolver o leitor numa teia de mistérios,
pois eu gosto muito de ler histórias assim. Gosto de enredos intrincados e
ágeis, sem apelação. Não sou fã da violência indiscriminada e da maldade
patológica. Meus vilões cometem coisas ruins porque têm uma razão para isso e
não porque são simplesmente maléficos. E a linha “um crime-vários suspeitos”,
embora seja antiga e muitos gostem de decretar a sua obsolescência, continua
vigorosa. Tento, na medida do possível, atualizar essa linha, mas sem
adulterá-la, pois muita gente – eu, incluído – adora.
7 - Qual o gênero que mais gosta de escrever e
qual é hoje, o seu maior público?
R: De uns anos para cá tenho me dedicado mais à literatura
policial juvenil e infanto-juvenil. Acabei conquistando muitos leitores entre esse
público, mas a principal razão é porque livros meus como “Morte no colégio” e
“Roubo no Paço Imperial” estão ajudando a estimular a leitura entre os jovens.
Como cidadão brasileiro, essa é uma questão que me mobiliza muito. Nunca
seremos um país desenvolvido de fato, enquanto a maior parte da população
estiver á margem da leitura e do conhecimento. Então, sinto que estou dando,
ainda que modestamente, alguma contribuição nesse sentido. Não deixa de ser uma
função social do meu trabalho.
8 - De todas as obras já escritas por você,
existe alguma favorita? Se sim, por que?
R: Todos são favoritos, pois foram escritos com muito
carinho. Recordo o processo criativo de todos eles e cada um foi diferente e
especial. Não há como eleger um como sendo o preferido. Seria injusto com os
demais.
9 - Costuma criar obras já sabendo que abrange
um certo público ou faixa etária? Se sim, já houve alguma obra que conseguiu
impactar leitor de outra faixa etária ou público? Se puder, cite-as, por favor.
R: Sim, costumo. Principalmente os infanto-juvenis. Mas há
adolescentes que preferem os meus adultos. “120 horas” e “O véu” foram
avidamente lidos por adolescentes uns anos atrás, a julgar pelos montes de
correspondências que recebi deles. E meu chick lit “As bem resolvidas(?)”, que
era originalmente destinado a garotas de 16 anos para cima, faz muito sucesso
também entre as meninas de 11 a 14 anos. Os autores podem ter suas intenções,
mas quem de fato determina o destino que os livros terão são os leitores.
10 - Por favor, deixe um recado a todos os
leitores.
R: Leiam muito, leiam sempre. Arrisquem-se por universos
literários diferentes daqueles que estão habituados e por obras de autores
desconhecidos. Vocês poderão se surpreender positivamente. É o que eu tenho
feito há trinta anos e não me arrependo.